A propaganda enganosa e os mitos da carga tributária

Um certo tipo de crítica que se faz à carga tributária brasileira
esconde propósitos muito egoístas, apesar da aparência patriótica. É
uma campanha que tem até painel eletrônico numa rua da capital paulista
– o “impostômetro” de uma associação empresarial – e humorista de
televisão se fingindo de frentista de posto para vender gasolina mais
barata, “sem imposto”. Algo que os patrocinadores dessas ações querem
de verdade, mas tentam ocultar, é a diminuição dos investimentos do
Estado em programas sociais ou em políticas de transferência de renda
como o Bolsa Família.

Essa conclusão salta aos olhos diante de um levantamento divulgado
recentemente pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da
Fazenda. Alguns de seus dados contrariam abertamente a mais comum das
críticas, a de que o governo federal tem aumentado seus gastos com a
folha de pagamento ou com o “inchaço” da máquina.

Em 2002, último ano de FHC, o governo federal gastava 4,8% do PIB
(Produto Interno Bruto) com pagamento de pessoal. Em março de 2010,
depois da “gastança”, do “aparelhamento” e outras imprudências
atribuídas ao governo Lula, a folha de pagamento dos servidores
consome. 4,8% do PIB. Houve, sim, aumentos salariais e contratações,
essenciais para o processo de recomposição do Estado, mas dentro de uma
lógica de acompanhamento da arrecadação e do crescimento da economia.
Aliás, esses investimentos também funcionam como motivadores do
crescimento econômico.

Por outro lado, os programas de transferência de renda, que em 2002
correspondiam a 6,4% do PIB, em março de 2010 saltaram para 9,1% do
PIB, o que representa algo em torno de R$ R$29,6 bilhões de reais.
Assim, se a carga tributária fosse simplesmente reduzida, como bradam
analistas e empresários, as políticas públicas e sociais estariam entre
as mais fortemente atingidas.

Para esses analistas, quando o Estado aplica recursos em programas e
projetos para combater a fome, a miséria e diminuir as desigualdades
sociais existentes, isso é de política assistencialista. Mas quando o
estado fortalece os bancos públicos, garantindo recursos para os
investimentos privados a juros subsidiados por toda a sociedade, aí
eles aplaudem.

Outro dado do levantamento desfaz a crença de que o atual governo vem
sistematicamente aumentando a carga tributária, enquanto o governo
anterior – atualmente na oposição e querendo voltar – era mais
comedido. Entre 1998 e 2002, período do segundo mandato FHC, marcado
por momentos de forte retração da economia, de desemprego e doação do
patrimônio público, a carga tributária da União subiu 3,32%. Em sete
anos de governo Lula, a quantidade de impostos arrecadados pela União
subiu 1,02%. Bem menos, e sem vender ou doar nenhuma empresa pública,
ao contrário.

A carga tributária está em torno de 34% do PIB. Mas não se trata de
loucura sem paralelo no mundo civilizado, como querem fazer parecer
muitos analistas por aí. Essa proporção está na mesma faixa de países
como Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha e muito, muito abaixo de
nações com forte estrutura de bem estar social, como Suécia e
Dinamarca. Sem os impostos, como investir no papel social do Estado,
nas políticas públicas?

O debate correto seria discutir a qualidade dos gastos, as prioridades,
o orçamento participativo, e outros instrumentos que garantam que o
Estado esteja realmente a serviço da maioria da sociedade.

Para os trabalhadores e trabalhadoras, mais importante que a proporção
dos impostos em relação ao PIB, é chamar a atenção para quem é mais
penalizado. Segundo estudo do economista Amir Khair, famílias que
ganham até 2 salários mínimos pagam quase 49% de sua renda mensal em
impostos. Já os mais favorecidos, que ganham acima de 30 salários
mínimos por mês, comprometem 26,3% de sua renda com impostos. Muito
menos.

Então, o desafio é alterar essa lógica perversa e criar um modelo
tributário progressivo: quem ganha mais, paga mais. Quem ganha menos,
paga menos. Voltaremos ao assunto.

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