Emprego
e salário encerram semestre em níveis historicamente altos e
desafiam controle dos preços pelo Banco Central (BC), que diz
enxergar potencial inflacionário em mercado de trabalho aquecido.
Diretoria decide nesta quarta-feira se combate à inflação exige
juro maior sabendo que, em junho, desemprego atingiu o patamar mais
baixo do mês e a renda, o mais alto. Criação de vagas com carteira
assinada foi a segunda maior da história de junho.
Preocupado com o que diz ver de
potencial inflacionário nos atuais níveis de emprego e renda, o
Banco Central (BC) decide nesta quarta-feira (20/07) se muda ou
mantém o juro tendo em mãos estatísticas novas que mostram que o
mercado de trabalho fechou o semestre aquecido. Desemprego no patamar
mais baixo da história de junho, salário médio em valores também
nunca vistos no mês passado, criação de vagas em ritmo intenso. “O
mercado de trabalho tem tido uma expansão muito forte no Brasil”,
disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
De janeiro a junho,
foram criados 1,414 milhões de empregos com carteira assinada,
segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)
divulgado por Lupi nesta terça-feira (19/07). Foi o terceiro melhor
resultado semestral dos últimos dez anos. Só perde para 2008,
quando, ainda sem a crise mundial, a economia brasileira rodava a
todo o vapor, e para 2010, ano da maior expansão do produto interno
bruto (PIB) dos últimos tempos (7,5%).
O aumento do emprego
formal foi generalizado em todos os setores – serviços, indústria,
comércio, agricultura, construção civil e setor público. Em junho
apenas, foram abertas 215 mil vagas, o segundo melhor resultado do
mês, atrás de 2008. Na passagem de maio para junho, o emprego
cresceu menos (51 mil vagas de diferença), considerado por Lupi um
fato normal – nos últimos dez anos, isso só não aconteceu em
2008.
A expansão do emprego formal contribuiu para o
desemprego terminar o semestre no menor nível já verificado em
junho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estística
(IBGE), que calcula o índice oficial, a taxa ficou em 6,2%. Em 2010,
tinha sido de 7%. Em maio, era de 6,4%, e a queda para 6,2% foi
considerada “estabilidade” pelo gerente da pesquisa, Cimar
Azeredo.
O desemprego mais baixo da história registrado pelo
IBGE tinha sido em dezembro (5,3%). Desde então, a taxa oscila entre
6,1% e 6,4%. A média do primeiro semestre de 2011 é inferior à do
ano todo de 2010, apesar de o crescimento econômico estar mais
devagar agora.
Salário em alta – O avanço do emprego
formal foi um dos fatores que colaboraram para a elevação da renda
médio dos trabalhadores em junho e no semestre. Os outros foram o
salário mínimo, o cenário econômico mais favorável e a maior
oragização do mercado de trabalho, de acordo com Azeredo.
Na
virada de maio para junho, o salário médio subiu de R$ 1.570 para
R$ 1.578, o maior valor já verificado pelo IBGE no mês, 4% acima de
junho do ano passado. Na média do primeiro semestre, o salário foi
de R$ 1.572, o maior desde o início da pesquisa em 2002. “O grande
fato positivo da economia brasileira é o ganho real de salário”,
afirmou Lupi, apontando a renda como responsável pelo crescimento
atual do país.
No primeiro semestre, o salário médio de
quem entrou no mercado de trabalho com carteira assinada foi 3% maior
do que no mesmo período do ano passado. De acordo com o Caged, o
trabalhador iniciante ganhava R$ 874 em 2010 e, agora, passou a
receber R$ 900, em média.
No último relatório trimestral sobre
inflação, divulgado em junho, o Banco Central mostrava estar
preocupado com o potencial inflacionário dos patamares
historicamente elevados de salário e emprego.
“Um aspecto
crucial em ciclos como o atual é a possibilidade de que o
aquecimento no mercado de trabalho leve à concessão de aumentos
reais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da
produtividade, o que, de acordo com algumas evidências disponíveis,
aparentemente tem ocorrido em certos setores. Em ambiente de demanda
aquecida, esses aumentos salariais tendem a ser repassados aos preços
ao consumidor”, dizia o documento.
O ministro do Trabalho
evitou comentar se concorda com a análise do BC. “O Brasil está
tomando as medidas certas contra a inflação. Inflação é contra
os salários”, afirmou Lupi.
A reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom) do BC que decide sobre juros começou
nesta terça-feira (19/07) e termina no dia seguinte. O chamado
“mercado” que o banco consulta toda semana (cerca de 100
instituições, sendo dois terços do sistema financeiro) prevê mais
uma alta da taxa de juros, como ocorreu em 8 de junho, encontro
anterior do Copom.