![]()
Não apenas reconhecer o racismo estrutural, mas combatê-lo na prática. Esta foi a defesa feita pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco ao levar para dentro das agências, no mês de novembro da Consciência Negra, o debate sobre a falta de oportunidades para negros e negras no sistema financeiro.
Na ocasião, os dirigentes visitaram as unidades bancárias da Av. Caxangá, com o projeto Capoeira com a UFPE e o Grupo Força da Capoeira. “Trouxemos a nossa raça, nossa origem, nossa força de lutar e denunciamos que o sistema que vivemos hoje, exclui a maioria do povo negro. O combate ao racismo é uma causa de todos nós”, aponta o presidente do Sindicato, Fabiano Moura.
Embora o discurso oficial diga que as “bondosas mãos” da princesa Isabel, ao assinar a Lei Áurea (1988), deram à nação a libertação dos que eram oprimidos por aquele regime de exceção, o fim da escravidão ocorreu por conta de muita pressão interna, dos próprios negros e negras oprimidos e dos chamados abolicionistas; e externa, pelos países que criavam barreiras à participação do Brasil no comércio liberal internacional, liderados pela Inglaterra.
“Estamos dialogando sobre a prática antirracista para que a gente possa refletir oportunidade, protagonismo e consciência racial. O racismos estrutural afeta a vida de nossos irmãos, negros e negras. Somos 54% da população brasileira e, mesmo assim, não estamos nos espaços de poder, nem no próprio sistema bancário”, afirma a secretária-Geral do Sindicato e membro do Coletivo de Combate ao Racismo da CUT-PE, Cândida Fernandes.
Conforme o relatório Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil, publicado no último dia 11 de novembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as desigualdades sociais que fustigam a população negra no Brasil “seguem evidentes”. A taxa de pobreza entre brancos (18,6%) quase dobra entre pretos (34,5%) e pardos (38,4%). Entre estes últimos, o número de homicídios é praticamente o triplo.
O desemprego, de 11,3% para trabalhadores brancos, sobe a 16,2% entre pardos e a 16,5% entre pretos. Índices com distorção semelhante também ocorrem no subemprego e na subutilização da mão de obra. “Denunciamos o quanto o nosso sistema financeiro não contrata negros e negras para o seu quadro funcional, especialmente nos bancos privados. Por isso, nossa luta é por igualdade de oportunidades. Como diz o lema que trouxemos ‘a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas’”, afirma a secretária da Mulher do Sindicato, Alzira Cavalcanti.
Além disso, enquanto a remuneração média de brancos é de R$ 19 por hora, a de pretos cai para R$ 10,90 e a de pardos, para R$ 11,30. Trabalhadores negros ocupam 29,5% dos cargos gerenciais e apenas 14,6% estão na faixa de renda mais elevada, mesmo sendo maioria no mercado de trabalho (53,8% do total). As diferenças sociais se acentuam com os dados de extrema pobreza, que classificam pessoas que vivem com US$ 1,90 por dia: 5% para brancos, 9% para pretos e 11,4% para pardos. As profundas diferenças também são identificadas nas áreas de moradia, educação e saúde.