
Na manhã desta quarta-feira (30), a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) reuniu bancários, parlamentares, lideranças sindicais, pesquisadores e representantes da categoria para debater o crescente adoecimento mental provocado por práticas abusivas de gestão no setor bancário. A Audiência Pública “Assédio Moral e Adoecimento dos Bancários em Pernambuco” discutiu o tema e construiu de forma coletiva uma série de ações que serão colocadas em prática para visibilizar a grave situação e para buscar soluções junto a outras autoridades.
“O modelo de gestão adotado pelos bancos adoece e mata. Temos propostas para transformar isso, que é a definição de metas coletivas, não individuais, e a discussão sobre essas metas, que não podem ser inalcançáveis e devem ter critérios. Nos bancos privados a ameaça é de demissão e nos públicos de perder comissão. Os bancários hoje trabalham com açoites modernos nas costas. Os banqueiros precisam ser pressionados para que entendam que existem outras formas de atuar no mercado sem esfolar o ser humano”, denunciou Fabiano Moura, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.
A audiência foi convocada pela Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Alepe, presidida pela deputada Dani Portela (PSOL), em articulação com o deputado estadual Doriel Barros (PT) e apoio dos deputados João Paulo (PT) e Rosa Amorim (PT). Também compuseram a mesa de abertura o presidente do Sindicato dos Bancários, Fabiano Moura, o secretário de Saúde do Sindicato, Alan Patrício, o presidente da CUT Pernambuco, Paulo Rocha, e o coordenador da pesquisa, professor Maurício Sardá (UFRPE).
Durante as falas, os parlamentares reforçaram o compromisso com a causa. “O Sindicato dos Bancários é uma referência por seu compromisso com os trabalhadores. O papel dos delegados sindicais é buscar envolver o máximo de trabalhadores para esta luta. Esta não é uma luta só de vocês, do Sindicato, mas é nossa”, destacou o deputado Doriel Barros.
A deputada Dani Portela também reafirmou o apoio da Casa Legislativa: “Os bancários não estão isolados. O Sindicato não está só. O Parlamento está com vocês e vamos buscar outros parceiros e parceiras que tenham responsabilidade coletiva com essa questão”, afirmou ao citar o Ministério Público de Pernambuco, Ministério do Trabalho e Governo do Estado.
O momento também marcou o lançamento oficial do Dossiê homônimo, elaborado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Desenvolvimento (LABOR/UFRPE), em parceria com o Sindicato dos Bancários de Pernambuco.
O Dossiê apresentado durante o encontro revela um cenário alarmante de adoecimento na categoria, com destaque para transtornos como ansiedade generalizada, síndrome de burnout, depressão, estresse crônico, síndrome do pânico, transtornos de adaptação e até doenças autoimunes, provocados por metas abusivas, cobrança excessiva e assédio institucionalizado.
O Secretário de Saúde do Sindicato, Alan Patrício, trouxe a dura realidade recebida diariamente pelo setor na entidade, que em 2024 emitiu mais de 500 Comunicados de Acidentes de Trabalho. “É muito difícil a gente ver bancários que voltam de uma licença por causa do adoecimento, excluídos numa sala durante 8 horas, sem ferramentas de trabalho, sem atribuições. Ou ainda um trabalhador ou uma trabalhadora ter que levantar o símbolo de que ele teve o pior desempenho, medido por um parâmetro desonesto, numa reunião”, relatou com emoção.
Ao final da audiência, foram definidos encaminhamentos importantes, que serão publicados no Diário Oficial e acompanhados com prazos definidos para os órgãos responsáveis.
O presidente do Sindicato, Fabiano Moura, destacou ainda a importância da audiência como marco de resistência e avanço na visibilidade do problema: “Saímos amparados, protegidos e com parte da nossa missão cumprida, pois os encaminhamentos da audiência nos contemplam muito e irão trazer visibilidade à luta dos bancários”.
Com a articulação entre parlamento, academia e entidades sindicais, a audiência pública se consolida como passo decisivo na construção de políticas públicas que enfrentem o assédio moral institucionalizado e promovam a saúde mental dos trabalhadores do sistema financeiro em Pernambuco.
Encaminhamentos:
– Criação de uma Frente Parlamentar Sindical e Social para unificar a luta de diferentes categorias;
– Solicitação de reunião com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), com a presença de bancários e parlamentares;
– Solicitação de reunião com o Governo do Estado de Pernambuco;
– Realização de visitas por uma comissão de deputados a agências bancárias (uma pública e uma privada) para averiguação de denúncias de assédio moral;
– Incidência na Conferência Estadual de Saúde de Pernambuco (2 a 4 de junho) para propor a inclusão de um eixo específico sobre saúde mental dos bancários, com protocolos de acolhimento e acompanhamento.