A violência e as falhas na atenção
à saúde de povos indígenas têm mantido altas as estatísticas de
mortes nessas populações a cada ano. A conclusão está no
relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil –
2010, que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulga
hoje (30). O levantamento revela que, no ano passado, pelo menos 60
indígenas foram assassinados no país, repetindo os números de 2008
e 2009.
“O que fica mais evidente é que
continua tudo igual. Temos a reprodução de uma situação que é
dramática”, avalia a antropóloga Lúcia Helena Rangel,
coordenadora da pesquisa.
A maioria dos homicídios, de acordo
com o Cimi, ocorreu em Mato Grosso do Sul, região de conflitos
históricos entre índios e grandes produtores rurais pela posse de
terras. O estado registra mais de 50% dos assassinatos indígenas em
2010 e o maior percentual de ameaças e tentativas de assassinatos
notificados pelos pesquisadores.
Alem da violência, o levantamento
traz informações sobre outras violações de direitos indígenas,
como a assistência à saúde. Em 2010, os números foram alarmantes:
de acordo com o relatório, 92 crianças indígenas menores de 5 anos
morreram vítimas de doenças consideradas “facilmente tratáveis”,
número 500% maior que o registrado em 2009. “A situação do povo
Xavante, que perdeu 60 das 100 crianças nascidas vivas, é um
absurdo”, destaca a coordenadora.
O documento também registra casos de
violência policial, desrespeito à demarcação e exploração
ilegal de recursos em terras indígenas.
Segundo Lúcia Helena, a repetição
das estatísticas negativas revela o descaso histórico em relação
às causas indígenas e o recente acirramento do preconceito contra
os povos tradicionais. “Reflete o não reconhecimento dos direitos
indígenas, por parte do Estado, por parte dos políticos, dos donos
de terra e da população em geral, que expressa um racismo contra os
indígenas que está cada vez mais descarado”, acrescenta.