A
maior parte da infraestrutra da saúde no país está nas mãos da
iniciativa privada. Dos cerca de 6,3 mil hospitais, 69% são
particulares e destinam apenas 38% de seus leitos para o Sistema
Único de Saúde (SUS). As informações foram apresentadas na manhã
desta quarta-feira (29), durante o seminário “A Saúde dos
Brasileiros”, realizada na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (USP).
O evento discute os seis artigos
publicados na edição de maio da revista britânica The Lancet. Foi
a primeira vez que uma prestigiada revista internacional da área de
medicina dedicou um volume especial para abordar a situação da
saúde no Brasil.
A autora do estudo é Célia Maria de
Almeida, pesquisadora e coordenadora do Programa de Desenvolvimento e
Inovação Tecnológica em Saúde da Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fundação Oswaldo Cruz). Co-autora de
um dos capítulos do volume, ela falou sobre o sistema de saúde.
Em sua avaliação, há muitas
conquistas estabelecidas nos últimos anos no Brasil. Ela citou
aspectos como o aumento na cobertura e a descentralização da gestão
garantida com o SUS. Ela destacou ainda o aumento do acesso da
população aos serviços, da consciência de que a saúde é um
direito de todos e dos recursos humanos e tecnológicos em todo o
sistema.
No entanto, há ainda há muitas
contradições. “Houve um aumento expressivo do setor privado,
que foi estimulado pelos governos por meio de incentivos fiscais e de
financiamento”, disse. “Entre os obstáculos que temos pela
frente está aumentar o financiamento federal da saúde, elevando
assim investimentos em infraestrutura.”
Segundo ela, no Brasil, são poucos
os hospitais que oferecem mais de 400 leitos. E a maioria deles está
localizada nas regiões Sul e Sudeste. Nessas regiões, há também
maior concentração de serviços de mamografia, aparelhos de
raios-X, tomógrafos, ressonância magnética e ultrassom; a maioria
instalados no setor privado.
O sistema de saúde brasileiro é, na
visão de Célia, uma intrincada rede pública e privada, na qual o
setor público subsidia o privado ao mesmo tempo em que investe pouco
no setor como um todo. Em compensação, o SUS conseguiu melhorar
amplamente o acesso à atenção básica e de emergência, atingir
uma cobertura universal da vacinação e da assistência pré-natal e
investir fortemente na expansão dos recursos humanos e tecnológicos,
esforçando-se para fabricar os produtos farmacêuticos essenciais ao
país.
Entre 1981 e 2008, a busca por
atendimento na atenção básica (como postos de saúde) cresceu
450%. No mesmo período, a procura por consultas em ambulatórios
hospitalares caiu de 21% para 12% da população.
Ela destacou o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu), presente em 1.150 cidades
brasileiras, cobrindo 55% da população, assegurando 74% da
assistência domiciliar de emergência. Os desafios, segundo Célia
Maria, estão relacionados a questões políticas, econômicas e
tecnológicas que garantam a sustentabilidade do SUS.