Dezenas de milhares de trabalhadores saíram às ruas de várias capitais
nesta quarta-feira, 6, Dia Nacional de Mobilização da CUT, “em defesa de
ganhos reais”. No centro de São Paulo, uma maré vermelha com 10 mil
trabalhadores tomou a Praça da Sé, de onde saiu uma grande passeata que
percorreu a ruas 15 de Novembro e Líbero Badaró, até a Praça do
Patriarca, ponto final da mobilização. Juntaram-se aos trabalhadores
militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), da Central
dos Movimentos Populares (CMP) e da Marcha Mundial de Mulheres.
“Reafirmamos que vamos realizar as maiores campanhas salariais do
segundo semestre. Porque a pauta dos trabalhadores é a do
desenvolvimento, é aumento real de salário, são políticas de geração de
emprego e renda. Foi isso que aprendemos com o governo Lula”, afirmou
Vagner Freitas, secretário de Administração e Finanças da CUT. Vagner
condenou veementemente o “discurso atrasado” do presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini, de que salário é inflacionário. “Segurar
salário, demitir e arrochar é a agenda conservadora dos que perderam as
eleições, dos neoliberais que arrebentaram a economia”, enfatizou.
Nas intervenções das lideranças das Confederações e de Sindicatos, como a
de Sérgio Nobre, dos Metalúrgicos do ABC; Juvandia Moreira, dos
Bancários de SP e Douglas Izzo, da Apeoesp, a afirmação da necessidade
de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho e
distribuição de renda, com um Estado forte, defensor de direitos e
promotor da justiça social.
No deslocamento dos 100 ônibus de trabalhadores até à capital, muitos
puderam sentir no bolso o verdadeiro assalto do novo reajuste dos
pedágios do governo estadual, de até 9,77%. Faixas e cartazes
denunciavam o governo Geraldo Alckmin pelo abuso e cobravam a instalação
de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pela Assembleia
Legislativa. Presentes ao ato, os deputados estaduais Luiz Cláudio
Marcolino, Carlos Grana, Edinho Araújo, Simão Pedro e Adriano Diogo,
todos da bancada do Partido dos Trabalhadores, denunciaram as armações
feitas pelos tucanos para barrar a instalação da CPI.
Representando a bancada federal do PT, o deputado Vicentinho reiterou o
compromisso com o combate à precarização das relações de trabalho e
denunciou o projeto do deputado Sandro Mabel que, “embora da base
governista, tenta promover as terceirizações para retirar direitos”.
Para Maria Fernanda, da Marcha Mundial das Mulheres, o movimento
participa do Dia Nacional de Mobilização da CUT, pois a pauta da classe
trabalhadora também faz parte da luta das mulheres por melhores
condições de vida. Os movimentos sociais unidos é que farão a diferença,
enfatizou. “Nós queremos também a redução da jornada de trabalho, pois
sabemos que as mulheres sofrem extensas e até mesmo duplas jornadas.
Também estamos aqui pela reforma agrária, pois sabemos que o que o campo
planta a cidade janta. Estamos aqui para fazermos a luta juntos. E
seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, declarou.
Raimundo Bonfim, representante da Central dos Movimentos Populares
(CMP), ressaltou as lutas que os movimentos sociais desenvolveram nas
décadas de 80 e 90 contra o modelo neoliberal implantado pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso. “Nós já estivemos juntos no passado, MST,
Marcha, CUTeCMP para barrar o neoliberalismo, o FMI, o FHC, a Alca. Nós
temos lado nessa luta. Enquanto as outras centrais não se definem,
estamos com a CUT, que tem uma ligação histórica conosco”. “Aqui é o
começo de uma grande rearticulação que levar as pautas dos trabalhadores
adiante”, acrescentou.
Presidente da CUT/SP, Adi dos Santos Lima, reconheceu a determinação e o
compromisso das mais de cem entidades sindicais responsáveis pelo
sucesso da mobilização realizada pela Central no estado, que reforça a
pauta nacional dos trabalhadores/as. Ele lembrou que para que a agenda
seja efetivada, é preciso pressionar o Congresso Nacional. “Não adianta
apenas irmos para Brasília, precisamos também estar na base diretamente
com os trabalhadores e trabalhadoras. Já vimos que sem pressão nossa
luta não avançará no Congresso. Mas a CUT é diferente e se organiza na
rua, por isso não descansaremos enquanto a nossa agenda não for
cumprida”.
Adi defendeu o fim do imposto sindical, com uma mudança na estrutura
sindical e com o direito de organização no local de trabalho, sem a
pulverização dos sindicatos, como ocorre. “Hoje temos mais de 18 mil
sindicatos, mas muitos estão aí só para receber o imposto sindical, pois
não são representativos e não fazem a luta do trabalhador”.
De acordo com Adi, a CUT luta pela “liberdade e autonomia sindical”,
defende que os trabalhadores decidam democraticamente, em
assembleia,como irão contribuir com o sindicato. O presidente da CUT-SP
reiterou que a Central intensificará a campanha pelo fim dessa cobrança
compulsória aos trabalhadores. “Nós não temos medo de propor uma
negociação em assembleia, pois os nossos sindicatos são representativos,
fazem a luta e campanhas salariais vitoriosas”, concluiu Adi.
Vagner Freitas lembrou que “a luta de classes não acabou e que para
enfrentar o capitalismo selvagem é preciso que cada entidade faça o seu
papel. A CUT investe no movimento de massas, em colocar os trabalhadores
na rua, em fazer a disputa de projeto por uma sociedade mais justa, uma
sociedade socialista”. Para avançarmos na construção deste novo tempo
para a classe trabalhadora e para o Brasil, alertou o dirigente da CUT
Nacional, a defesa da educação pública e da reforma agrária são duas
medidas imprescindíveis.