Por Anabele
Silva*
Para muitos bancários o tema da Campanha Nacional 2011
pode trazer alguma novidade. Isso porque o conceito de Trabalho
Decente é relativamente novo, mais ainda na categoria bancária. Em
1999, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu em uma
de suas publicações que trabalho decente é: “Um trabalho
produtivo, exercido em condições de liberdade, equidade, segurança
e dignidade e que gere renda suficiente para a sobrevivência honrada
do trabalhador e de sua família.”
A bandeira por emprego
decente nasceu para defender os trabalhadores que se encontravam nas
condições mais adversas relativas à informalidade nas quais era
possível encontrar ocupações com baixíssimos salários, condições
insalubres e sem nenhuma proteção social.
Infelizmente, essa
luta recentemente precisou ser estendida às categorias de emprego
formal. Até aquelas que gozavam de algum prestígio no passado foram
sofrendo cortes de direitos que os tiraram alguns aspectos positivos
da profissão, como é o caso dos bancários.
Se prestarmos
bastante atenção à definição da OIT vamos perceber que o
empregado bancário hoje se encontra fora da maioria das
características de um emprego decente. Podemos elencar quatro pontos
principais: os altos níveis de inseguranças dentro dos bancos
(basta analisarmos o número de assaltos ocorridos só neste ano), a
cobrança de metas abusivas e o assédio moral que permeia o
cotidiano dos bancários e o retira muitas vezes da posição de
dignidade diante da sua atividade. A tudo isso se soma um piso
salarial desvalorizado e uma comprovada atmosfera de discriminação
contra mulheres, negros e portadores de necessidades especiais
promovida pelos bancos.
A mobilização e força da categoria
bancária em defesa dos seus direitos têm impedido que essa situação
se agrave. Um grande exemplo disso foi a reversão do processo de
terceirização na Caixa Econômica Federal que teve início em 2006,
quando o movimento sindical conseguiu envolver o Mistério Público e
parar com um processo que poderia trazer danos imensos ao emprego
bancário e à instituição.
Mas esse fantasma da
terceirização não está longe, basta olharmos o mau exemplo do BNB
que tem substituído bancários por empregados temporários. No Itaú
e Santander a onda de demissões após as fusões começou com força,
retornando uma prática que foi comum nos anos 90 e que fez a
categoria bancária ser reduzida em quase 50% em pouco mais de uma
década.
Outro bom exemplo do poder da nossa luta foi a
valorização do piso, além do ganho real, na Campanha de 2010.
Entretanto os bancos continuam utilizando a rotatividade para
diminuir custos. Tudo isso demonstra que nossa luta é constante e
não pode esmorecer. Todos os problemas enfrentados mostram que a
busca por emprego decente é pertinente aos bancários e deve começar
já para que possamos reverter danos já causados e evitar outros.
A
história mostra que apenas uma luta forte e unificada pode ir de
encontro à lógica de lucro a qualquer custo que impera entre os
banqueiros. Cada bancário e bancária é peça fundamental no
crescimento notório dos bancos e precisa ter, em contrapartida,
salários valorizados, planos de cargos que promovam uma perspectiva
de carreira e um ambiente de trabalho livre de doenças e de
discriminação.
A Campanha Nacional dos Bancários vai
começar e precisa contar com todos para que possa gerar mudanças
significativas. Junte-se a nós por trabalho decente, essa luta
também é sua!
* Anabele Silva é empregada da Caixa e
secretária de Comunicação do Sindicato. Atualmente, ela está na
Alemanha, concluindo o curso de Economia Global e Sociologia do
Trabalho, promovido pela central sindical alemã DGB em parceria com
a Contraf-CUT.