Economista Tânia Bacelar recebe prêmio por estudos dedicados ao Nordeste

A economista pernambucana Tânia Bacelar recebeu a segunda edição do
Prêmio Tejucupapo, uma comenda do Instituto Nordeste XXI, instituído
pela revista Nordeste VinteUm, que lhe foi entregue esta semana na
Fundação Joaquim Nabuco, em Recife.



O troféu, segundo o diretor-presidente da revista Francisco Bezerra, é
um reconhecimento em vida às histórias e conquistas das guerreiras
nordestinas. “Consideramos sua dedicação ao Nordeste estudando
planejamentos estratégicos para o desenvolvimento dessa região. Além
disso, a história das Heroínas de Tejucupapo se confunde com a história
de Tânia”, enfatizou.



Antes da entrega do prêmio, houve um recital em alusão a batalha das
Heroínas. A interpretação foi da atriz Luciana Lyra, que transformou em
sua dissertação de doutorado a história das mulheres do vilarejo de
Tejucupapo, em Goiana. O ministro da Integração, Fernando Bezerra
Coelho, declarou que Tânia “ofereceu sua contribuição à minha gestão
quando secretário de Pernambuco. Suas orientações foram úteis na
formulação de políticas públicas para colocar o Estado na posição que
está. Como ministro, estamos nos valendo do talento de Tânia para
construir propostas de gestão”, afirmou.



Segundo Tânia Bacelar, a origem do prêmio é para quem se destacou no
Nordeste e “essa região sempre foi meu objeto de estudo e trabalho,
principalmente, durante os 20 anos que passei Sudene, entre 1966 a
2006. Me sinto honrada com o reconhecimento do meu trabalho”, contou.


Leia abaixo o discurso de Tânia


Minhas palavras iniciais são de agradecimento


Introdução


Como o critério deve ter sido o trabalho que venho realizando ao longo
de minha vida profissional, vou aproveitar a oportunidade para usar
este tempo que me é dado, para falar de meu principal objeto de estudo
e de trabalho: o Nordeste brasileiro.


As mudanças no Nordeste


Olhando o Nordeste que conheci ao entrar na SUDENE no final dos anos 60
não dá para negar que mudanças importantes se verificaram.



O avanço da indústria e do terciário moderno nas grandes cidades – que
também cresceram e se modernizaram, ao mesmo tempo em que reproduziram
o padrão de miséria que marca todas as periferias urbanas do país -, é
visível a olho nu.



O surgimento de novas e modernas bases agrícolas, nos vales de nossos
principais rios ou na porção nordestina do cerrado brasileiro criou
novas frentes de expansão econômica que atraíram muita gente daqui e de
fora. Os gaúchos que o digam.



Outra mudança importantíssima foi o desmonte da velha estrutura montada
no semi-árido, com o fim do algodão. E a busca de novos rumos para este
imenso território, agora tendo em mente a “convivência com a realidade
da caatinga”, mesmo estando ela ameaçada pelo avanço da desertificação
em tempos de aquecimento global. Desmonte que fragilizou as bases
políticas dos herdeiros dos velhos coronéis.



Igualmente relevante foi a redução do peso econômico (e político) de
outro velho complexo: o sucro – alcooleiro, que perdeu importância na
economia da região e que assistiu a seu deslocamento para as terras do
Sudeste e Centro -Oeste, hoje lideres nacionais na produção do etanol.



O Nordeste promoveu também o desenvolvimento de numerosas bases
econômicas locais, algumas delas articuladas no mercado nacional e até
mundial, fruto da capacidade empreendedora de nossa gente. Gente que
não se entrega, mesmo vivendo em um contexto nada favorável, nem se
deixa abater pela leitura preconceituosa dos que pensam que aqui só
existe miséria e submissão aos poderosos.



O fim da seca como drama social é outra mudança que veio com o avanço das políticas sociais no Brasil redemocratizado.



A Constituinte, em 1988, estendeu a Previdência ao meio rural e cobriu
os velhos com o manto protetor do Estado. E o programa Bolsa Família
alargou o cobertor, apesar das criticas dos conservadores.



No inicio do século XXI, com o país retomando seu crescimento puxado
pela dinâmica do consumo popular, o Nordeste, junto com o Norte, foi
positivamente afetado. Lidera as vendas no comercio varejista desde
2003. E o consumo dinâmico atraiu o investimento: que o digam o BNDES e
o BNB.



Assim, o NE viu o emprego formal crescer a taxas superiores às do
Sudeste e Sul ( 6,3% contra 5% , entre 2002 e 2010, segundo a RAIS) e o
rendimento familiar real da sua PEA crescer acima da media nacional (
6,2% versus 4,5%, segundo a PNAD).



Viu a Petrobras trazer 3 das suas novas refinarias para a região e usar
seu poder de compra para levar estaleiros a PE, MA, BA e AL.



Viu as Universidades se interiorizarem, mudando a fisionomia de varias
cidades media da região, e abrigarem alguns Institutos Nacionais de
Pesquisa em áreas de ponta do conhecimento: como o de Neurociências (
na UFRN) e Fármacos ( na UFPE).



Viu sua infra- estrutura econômica melhorar, como novos modernos portos
e aeroportos, com a duplicação de rodovias estratégicas como a BR 101,
ou com a construção da ferrovia Transnordestina ( velho sonho, que
ainda está incompleto, pois precisa passar de Eliseu Martins para
chegar na Norte-Sul).


Mas há muitas resistências a superar e obstáculos a vencer


A velha estrutura fundiária é a maior peça de resistência. Quase um
tabu. Os avanços são marginais, apesar da luta dos movimentos sociais.
E a melhoria da vida de muitos nordestinos esbarra aí.



O ensino fundamental de qualidade é outro velho obstáculo a um
verdadeiro avanço social: se expande quantitativamente, mas o IDEB
coloca a região em lugar vergonhoso. Principalmente para as
necessidades do século XXI.


Mas há novos desafios a enfrentar


O pré-sal é um dos novos desafios. O setor de petróleo e gás já lidera
o investimento na indústria do país e vai ampliar seu peso na dinâmica
da economia nacional nas próximas décadas. E deve estimular uma
interessante cadeia de fornecedores. O problema é que 2/3 dos atuais
produtores desta rede de fornecimento está no Sudeste.



O pré sal pode atuar como um vetor de reconcentração industrial nas
áreas mais ricas do país. Estudo do CEDEPLAR/UFMG sobre os impactos
regionais do PAC 2 ( que já inclui os resultados iniciais da exploração
do pré-sal) já sinaliza nesta direção.



Pernambuco percebeu tal ameaça e tenta estruturar o SUAPE GLOBAL como
forma de se credenciar como pólo nacional de fornecimento de
equipamentos e serviços a indústria do petróleo e gás. Mas o esforço
necessário é muito maior! Aqui e em outros Estados do NE.



Outro desafio, ainda na área de energia, é o de fazer avançar na região
a produção de energias renováveis , como a eólica , a solar, a
biomassa, etc. Há esforços nesse sentido e avanços iniciais, mas o
desafio é muito maior.



A integração sulamericana também fustiga o Nordeste. O Brasil já
decidiu ampliar sua integração com os vizinhos da America do Sul e o
projeto IIRSA é a concretização de investimentos que visam ampliar a
integração física da região, via investimentos estratégicos em
infra-estrutura de logística. O Nordeste está fora da IIRSA, cujo mapa
atual de investimentos não inclui nada em nossa região.



Estes são alguns dos novos desafios. Mas há um antigo: vencer o hiato
entre o padrão de vida da maioria dos nordestinos e a da grande parte
dos demais brasileiros. Aqui ainda estão 60% dos mais pobres do país,
destacou o recém lançado Programa de Erradicação da Miséria.



De que serviram tantos avanços, se a vida concreta de tantos
nordestinos ainda é tão precária? Se as oportunidades não lhe chegam?



Ainda há muito a fazer! E espero que prêmios como este estimulem as
pessoas a lutar por um Nordeste melhor. Por isso dedico o que ora
recebo aos que não se acomodam com algumas melhorias, não se contentam
com migalhas (como faziam nossos velhos oligarcas.



Continuam querendo mais avanços. Muito mais!

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